sexta-feira, 30 de novembro de 2012

É mesmo isto


"Ainda vivi o fim do antigo regime, do Estado Novo. A oposição dividia-se entre estar indignada - e, de facto, a situação era indigna, totalitária e repressiva - e em fazer retratos mais ou menos neo-realistas da situação social e política do país. Apesar do crescimento do PIB ser enorme (travado, em 1973, pela crise petrolífera) o país era miserável. Faziam-se abaixo-assinados e exigia-se a demissão do senhor Presidente do Conselho. O Presidente da República, que tinha o popular cognome de 'cabeça de abóbora', assistia mudo aos apelos que lhe faziam as personalidades do reviralho. Nos cafés conspirava-se, nas universidades fugíamos da polícia de choque, nas empresas e fábricas havia gente subversiva, ligada no geral ao PCP, que organizava sindicatos e comités.
Quase toda esta gente foi surpreendida por um movimento militar que pôs fim ao regime.
Depois do 25 de Abril, sempre que a direita está no poder, a esquerda parece rememorar os velhos tempos da oposição ao Estado Novo. Proclama, conspira inconsequentemente, faz apelos e abaixo-assinados e indigna-se. Como então se esquecia de que era necessário um plano para a tomada do poder, pelo que era (como se dizia) bota-abaixista, também agora parece esquecer-se que há toda a liberdade de expor alternativas e de concorrer a eleições para mudar a política, o Governo e o estado das coisas. Excetuando aqueles que acham que essa é uma via burguesa de resolver problemas políticos (ou seja, os radicais), todos concordam que a existência de eleições é a forma pacífica e civilizada de mudar de política. É certo que a democracia não se esgota em eleições e que o direito à indignação e ao protesto existe, mas a prática democrática, sobretudo quando exercida por pessoas com responsabilidades no país, deve ser dirigida para o debate racional de alternativas e não para um debate emocional e demagógico para onde alguns o querem conduzir.
Porém, sempre que um governo de direita ganha eleições, aparece logo quem o considere ilegítimo. E há sempre quem volte com o choradinho como arma, a indignação como protesto e o bota-abaixismo como método. Propaga-se bem nas redes sociais e funciona otimamente como escape catártico.
Mas é totalmente ineficaz para construir o que quer que seja, incluindo uma alternativa política realista à atual situação."

Henrique Monteiro no Expresso

1 comentário:

  1. "Mas é totalmente ineficaz para construir o que quer que seja, incluindo uma alternativa política realista à atual situação."

    Mas a ideia não é essa, Hugo.
    Acha que o PCP e o BE querem ser Poder?
    Nem de perto.
    Querem é fazer barulho. Nada mais.
    Boa semana!!

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