segunda-feira, 14 de março de 2011

Para que serve um banco?


"Ao transmitir riqueza e apoiar o crescimento económico, os bancos continuam no cerne do nosso sistema económico. E agora que a recuperação está em curso, é do interesse de todos termos bancos fortes, estáveis e fiáveis.

A "The Banker" tem um suplemento intitulado ‘Como gerir um banco?' Mas uma pergunta mais pertinente seria talvez: "Para que serve um banco?"
Para os clientes, o que conta é a garantia de que são instituições estáveis e sólidas, que oferecem bons serviços e produtos a custos razoáveis. Para os políticos, o mais importante é, compreensivelmente, a retoma do crescimento e a garantia de que os bancos desempenham o papel que lhes compete no que toca a fornecer crédito à economia do país e a ajudar os exportadores bem sucedidos a desenvolverem as suas vendas nos mercados em franco crescimento na economia global. Quanto aos reguladores, querem garantias de que os contribuintes não terão que socorrer estas instituições. E, obviamente, todos queremos ver mercados competitivos.
A função principal
Para mim, a função principal dos bancos comerciais - ou seja, a banca para clientes de retalho, para pequenas e médias empresas e para os clientes empresariais - é assegurar pagamentos, aceitar depósitos e garantir que o crédito flui na economia, paralelamente com o aconselhamento sólido e prudente aos seus clientes. Aceitamos dinheiro com diferentes maturidades, fontes e finalidades, e transformamo-lo em empréstimos prudentes que vão ao encontro das diferentes necessidades dos clientes. A gestão prudente e eficaz da maturidade é uma das razões principais para a nossa existência. E é essencial para o bem-estar da sociedade.

Um mundo interligado
A recente crise teve amplas repercussões uma vez que os serviços financeiros, um pouco por todo o mundo ,e a economia global estão mais interligados do que nunca. A recuperação está em curso mas continua frágil no mundo ocidental e vai continuar assim por mais algum tempo no futuro, em virtude da necessária desalavancagem e da necessidade de resolver a dívida pública e o défice.
Alguns mercados e regiões foram mais afectados do que outros. Os desequilíbrios globais continuam a fazer sentir-se. O poderio económico continua a acentuar-se cada vez mais a Leste. E são muitos os países que continuam ainda a debater-se neste período de rescaldo da crise e com os desafios da dívida soberana. Algumas das economias que foram o motor do crescimento global, nos últimos anos, enfrentam agora o desafio de se prevenirem para o sobreaquecimento das suas economias.
Os bancos, que continuam a ser o principal sistema de transmissão de riqueza e de crescimento, têm encontrado o seu rumo no meio da forte corrente; e, ao mesmo tempo, repondo das suas forças e robustez para fazer face a choques futuros.
Nestes três anos, desde que rebentou a crise, assistimos a fortes mudanças na nossa indústria ao nível da supervisão, dos requisitos de capital e de liquidez e das estruturas de incentivos.
Os bancos, sobretudo no Reino Unido e nos EUA, estão muito melhor capitalizados do que antes da crise. O consenso internacional conseguido através do G20 e do processo de Basileia constitui um novo ponto de partida. Mas poucos foram surpreendidos por ter ficado aquém do quadro global mais abrangente que as autoridades pretendiam no rescaldo imediato da crise.
A grande tarefa passa agora pela implementação eficaz desse quadro global nos principais mercados nacionais e regionais.
Não nos podemos dar ao luxo de testar regulações meramente assentes no mínimo denominador comum. As autoridades não devem ir longe demais no consenso internacional a ponto de imporem regulações super-equivalentes. Com isto podem afectar a capacidade do sector de apoiar a recuperação e o crescimento na economia mais alargada.
O novo quadro internacional tem de permitir também que os bancos multinacionais e as autoridades isolem e contenham os problemas transfronteiriços se os mesmos ocorrerem no futuro.
Temos que passar para uma era de subsidiarização mais eficaz e mais forte, de modo a resolver melhor os problemas onde e quando ocorrerem.
Conquistar a confiança da sociedade
Uma regulação e supervisão eficazes definem, por norma, limites. Mas é o que fazemos, como banqueiros, dentro desses limites que determina se podemos reconquistar a confiança dos clientes e da sociedade.
Temos de assegurar que os conselhos de administração dos bancos e os cargos de topo das empresas do sector sejam ocupados por pessoas com os mais elevados padrões éticos, pessoas capazes e com capacidade de agir com isenção.
Temos de implementar uma gestão de risco eficaz e robusta nas estruturas de topo dos bancos - não só nos sistemas, mas bem patente também na cultura do banco. E temos de continuar a caminhar no sentido de posições de liquidez mais fortes, com base no retalho e por depósitos estáveis, reduzindo a nossa dependência colectiva nos mercados grossistas a curto prazo.
A questão mais premente é a necessidade de recuperar a confiança, a pedra basilar da banca

Tempos motivadores
A nível pessoal, este é um período motivador para assumir o leme do Lloyds Banking Group, o principal banco nacional do Reino Unido, grupo que alberga algumas das marcas mais antigas e conhecias do mercado. Muitas das questões que vou ter na minha agenda são comuns à maioria dos bancos. A questão crucial é a necessidade de repor a confiança, as pedras basilares da banca; confiança na nossa integridade; confiança na nossa capacidade de fazer o que nos propomos fazer. Isso é, para mim, o mais importante.
A confiança nos bancos será reposta, lentamente, através de actos e não de palavras. Temos de apoiar a economia do Reino Unido através de empréstimos responsáveis, de um serviço ao cliente atencioso e meticuloso ,e oferecer serviços de valor acrescentado simples e compreendidos pelos clientes.
Os nossos preços têm de ser transparentes; e temos de permitir que os clientes possam mudar livre e facilmente de instituição se acharem que podem conseguir um melhor serviço noutra parte. Os bancos devem desenvolver o seu próprio posicionamento e os seus planos estratégicos em cada uma dessas áreas com base numa boa relação custo benefício. Mas, para tal, será necessária também uma liderança mais forte da parte de todos de modo a termos um sistema colectivo que coloque de facto os interesses dos clientes no centro do negócio. Temos ainda de ter um diálogo mais construtivo com o Governo e com os reguladores. E temos de fazer um melhor trabalho a comunicar o que fazemos e o valor que ajudamos a criar.
Os nossos desafios como indústria estão ligados ao futuro da economia. Não existe uma economia forte sem um sector bancário forte. E um sector bancário forte é crucial para fomentar o crescimento económico."
Artigo de António Horta Osório, apelidado por muitos de Mourinho da Banca, actual presidente do Llyods Bank

1 comentário:

  1. Não conhecia o epíteto - Mourinho da Banca.
    Mas está bem conseguido, sim senhor.

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